Não se constrói um país destruindo suas pontes
- Samuel Barbi
- 16 de jun.
- 2 min de leitura
A estrada rumo à prosperidade não é fácil: exige dedicação, estudo, disciplina, trabalho e planejamento. Mas, para quem está disposto a segui-la, existe uma ponte que ajuda a atravessar os principais desafios: investir. Essa ponte conecta o presente apertado a um futuro mais livre.
O problema é que, em vez de incentivar essa travessia, o governo federal tem feito exatamente o oposto: minado sistematicamente a ponte para o sucesso financeiro do cidadão comum — e agora, com ainda mais força.
Na última semana, o governo Lula publicou uma medida provisória (MP) que altera, entre outras coisas, a forma como o brasileiro é tributado ao investir. A justificativa é sempre a mesma: “corrigir distorções” e “aumentar a arrecadação”. Mas, na prática, o que se vê é um cerco cada vez maior à autonomia financeira da população.
Aplicações financeiras em geral — inclusive títulos públicos, que deveriam ser a porta de entrada para o pequeno investidor — perderam a alíquota regressiva que premiava o longo prazo e passarão a ser tributadas por uma alíquota única de 17,5%, penalizando justamente quem investe com paciência e disciplina. Títulos antes isentos, que fomentam setores estratégicos como o mercado imobiliário, a infraestrutura e o agronegócio (LCA, LCI, CRI, CRA e LCD), passarão a pagar 5% de imposto. O Imposto de Renda sobre Juros sobre Capital Próprio (JCP) subirá de 15% para 20%. Fintechs e empresas inovadoras, que recolhiam 9% de CSLL, agora enfrentarão 15%. Até as apostas online (bets) foram incluídas na fúria arrecadatória, com a alíquota saltando de 12% para 18%.
No Brasil, já somos tributados em praticamente tudo: no salário, com descontos pesados na folha; no consumo, com uma das cargas tributárias mais altas do mundo sobre produtos e serviços; e na propriedade, com impostos como o IPTU e o IPVA. Para a maioria dos brasileiros, sobra pouco ou nada ao fim do mês. E quando alguém decide fazer o esforço de investir — adiar o consumo, aprender sobre finanças, buscar um futuro melhor — o governo estende sua mão pesada mais uma vez. Tributar o investimento é ir além da arrecadação: é tolhir o direito de quem tem menos de evoluir na vida. É impedir que o brasileiro comum cruze a ponte que leva da escassez à prosperidade.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que essas medidas só “afetam morador de cobertura”. Ora, eu moro em uma cobertura — não por herança ou privilégio, mas porque utilizei a ponte do investimento, que, dia após dia, vem sendo dinamitada pelo próprio governo. Para os atuais representantes, qualidades como planejamento, disciplina, iniciativa e visão de longo prazo vêm sendo tratadas como crime. E se você é jovem, trabalhador, e sonha um dia em conquistar seu próprio espaço — talvez até uma cobertura também — deveria estar indignado. Por trás dessa fala não há justiça fiscal; há um projeto deliberado de manutenção da pobreza.
O Brasil precisa decidir: quer ser uma nação de dependentes ou de investidores? De consumidores endividados ou de cidadãos prósperos? Porque um país que destrói as pontes para o sucesso está, na verdade, incentivando o fracasso.

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