“Pacote de Bondades” ou “Pacote do Desespero”?

No fim da semana passada o Senado aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC), que traz um aparente “Pacote de Bondades” para a população. As medidas, que ainda precisam ser aprovadas pela Câmara, envolvem: ampliar o valor e quantidade de beneficiários do Auxílio Brasil, a distribuição de dinheiro para caminhoneiros autônomos e taxistas, compensações às empresas pela gratuidade de transportes de idosos, bem como o aumento de recursos para auxílio gás, Alimenta Brasil e ressarcimento aos estados em troca da redução de tributações incidentes sobre etanol. Ao todo, o impacto do pacote deve ultrapassar os R$41 bilhões e as medidas têm validade somente até o fim de 2022.
Estamos vivendo um momento econômico curioso, envolvendo choques negativos de oferta promovidos pela desestruturação das cadeias internacionais de produção durante a pandemia e agravados pela instabilidade da nova geopolítica mundial. A guerra entre Rússia e Ucrânia (relembre) é mais um fator que adiciona forças ao recente movimento de desglobalização. Após longos anos de integração dos mercados internacionais, governos e empresas têm se sentindo inseguros de manter longas distâncias de seus fatores de produção.
Por outro lado, vivemos diversos choques positivos na demanda. Em resposta à pandemia, houve ampliação de auxílios e fomentos governamentais em todo o mundo. O desrespeito a limitações fiscais e um excesso de emissão de moeda por parte dos governos, gera aumento da demanda da população por produtos e serviços. Redução de oferta e elevação de demanda vão se converter em um resultado unívoco: aumento generalizado dos preços, ou seja, inflação.
Para complicar ainda mais o cenário, teremos eleições neste ano. E os políticos não pensam em você, pensam neles mesmos. Seu apetite insaciável por apoio e votos é o que motiva tais auxílios provisórios aprovados às pressas. Tanto que governistas e oposição foram praticamente unânimes. Apenas José Serra (PSDB-SP) votou contra e definiu muito bem a questão, chamando-a de “bomba fiscal”:
"Na verdade, o 'pacote de bondades' é eleitoreiro, só vai até dezembro de 2022 e compromete o futuro das contas públicas. Além disso, a perda de credibilidade fiscal vai estimular inflação, juros mais elevados e reduzir os investimentos necessários para a geração de emprego e renda, que é a mais importante política de combate à pobreza de que dispomos"
Se aprovados, esses gastos em ano eleitoral e acima do teto legal, vão acelerar o processo inflacionário no Brasil. Quem mais perde com isso? Um estudo da FGV-IBRE (2022) comprova o que já imaginávamos, nem sempre a inflação atinge todas as famílias com a mesma intensidade. Na real, quem sofre mais são os mais pobres:
“Considerando-se a inflação acumulada nos dois anos desde o início da pandemia, entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2022, as classes de renda mais baixas continuam sofrendo mais. Para um IPC-FGV acumulado de 15,2%, a inflação das famílias de renda mais baixa foi de 16,8% e a das de renda mais alta de 13,6%.”
Em função da ansiedade dos políticos por votos, a PEC foi apelidada de “Pacote do Desespero” por técnicos do campo das finanças. O Pacote não deve sofrer muita dificuldade para ser aprovado na Câmara. Afinal, quando os governantes anunciam “bondades” em períodos eleitorais, independentemente dos riscos que isso pode acarretar para a economia nacional, estão se assumindo como lobos em pele de cordeiros, prontíssimos para devorar seu voto em outubro.
04/07/2022
Samuel Barbi
Mentoria Financeira
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