Dinheiro e Terapia
- Samuel Barbi
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Quando o problema não é a fatura: é a ferida
Você abre o extrato bancário e sente o estômago revirar. Fecha rapidinho. Suspira fundo. Diz pra si mesmo: "Preciso me organizar." Mas dias se passam, e nada muda. Você gasta de novo. Depois sente culpa. Promete que vai melhorar. Talvez até comece uma planilha… e abandone. E aí se pergunta: “Por que eu sou assim?” A resposta talvez esteja menos na conta corrente — e mais na sua história.
Muita gente acha que dificuldade com dinheiro é falta de disciplina ou de educação financeira. Mas na verdade, o buraco costuma ser mais fundo. A forma como lidamos com o dinheiro carrega traumas, carências, crenças e medos que muitas vezes nem percebemos.
É como uma ferida antiga que ainda dói na memória, mesmo depois de cicatrizada. Você pode ter crescido num lar onde sempre faltava. Ou onde havia, mas ninguém falava sobre. Pode ter ouvido que “dinheiro não é coisa de mulher”, “quem é rico não vai pro céu” ou “você não leva nada dessa vida”. Essas frases grudam na alma, não somem, só atrapalham.
E aí, mesmo na vida adulta, você pode repetir padrões que nem são seus:
● gasta mais do que pode pra provar que venceu;
● evita olhar a conta porque dinheiro virou sinônimo de angústia;
● sente vergonha de ganhar bem, como se não merecesse;
● doa mais do que tem, tentando comprar afeto.
É por isso que, às vezes, o problema não é a fatura. É o que essa fatura representa.
Talvez ela mostre um cansaço que você tentou aliviar com comida por delivery. Ou uma solidão que virou compras parceladas. Ou uma infância de escassez que agora transborda em exagero.
Se você se viu nesse texto, respira. Você não está quebrado. Você está carregando uma história — e ela pode ser ressignificada.
Comece assim:
Olhe com gentileza. Ao invés de “eu sou desorganizado”, tente “eu nunca aprendi outro jeito”.
Observe seus gatilhos. O que você sente antes de gastar demais? Qual é o vazio que tenta preencher?
Dê um nome à sua história com o dinheiro. Se ela fosse um livro, qual seria o título? Isso pode te surpreender.
O dinheiro revela muito mais do que números: ele mostra onde dói, onde falta, onde transborda.
E quando a gente escuta de verdade o que ele tem a dizer, pode começar — enfim — a cuidar, não só da conta, mas de si mesmo.
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