O aumento dos juros e seus efeitos colaterais na economia

Samuel Barbi
Data: 01/11/2021
O Brasil é um obeso que não quer ser saudável. Seus exames de colesterol e triglicérides apontam que são necessárias ações imediatas para corrigir seu estado de morbidez. Entretanto, nosso querido país prefere não seguir as recomendações médicas e continuar se alimentando mal, evitando exercícios físicos e empurrando as decisões importantes com a barriga. Prefere apenas tomar alguns remédios contra seus males, sem tratar as reais causas de sua enfermidade.
Algumas semanas atrás expliquei porque os juros estão e (devem continuar) subindo. E não deu outra, esse processo continua ocorrendo, sendo divulgado no último dia 24 de novembro de 2021 mais uma alta de 1,5 ponto percentual, elevando a Selic de 6,25% para 7,75% ao ano. E pode ter certeza que não vai parar por aqui. As previsões de juros futuros já passam dos 12% ao ano.
A obesidade de nosso país é causada pela instabilidade política que passamos. Os constantes desequilíbrios e irresponsabilidades fiscais (gasto público excessivo) são especialmente alimentados por nosso processo eleitoral. É mensalão, rachadinha, pedalada, calote nos precatórios, discussões visando o aumento dos valores do fundo eleitoral, furo de teto de gastos, emendas parlamentares, uma série de instrumentos para elevar o apetite de quem deveria estar fazendo dieta. A situação vai se agravando. Dentre as 40 maiores economias do planeta, nossa inflação só perde para Turquia e Argentina. Tal falta de credibilidade empurra o dólar para cima, contaminando preços cotados internacionalmente, como de combustíveis e de produtos importados. Ou seja, mais inflação.
A taxa básica de juros da economia, Selic, é o principal remédio que temos para conter esse processo. É como um genérico contra o colesterol, certamente vai diminuir o risco de um ataque cardíaco por um tempo. Entretanto, se as causas da doença permanecem, a dose aplicada terá que ser cada vez maior, agravando-se os indesejados efeitos colaterais: desemprego e baixo crescimento econômico. Frente a um maior custo de capital, as empresas suspendem os seus investimentos. O país vai voltando a ser um paraíso para a renda fixa e um inferno para empresários e trabalhadores.
O Banco Central faz o que pode fazer, aplica o remédio amargo que tem em mãos. Governo federal e congresso nacional, por sua vez, permanecem interessados no fast food populista e eleitoreiro, não querem nem passar pela porta de uma academia (melhorar a qualidade do gasto público) ou iniciar uma necessária dieta fiscal (reformas estruturantes). O risco cardíaco se eleva a cada dia, bem como o de uma overdose de juros se aproxima.
Todos sabem o que fazer para sair da obesidade e galgar uma condição mais saudável. No entanto, nem todos estão dispostos a pagar esse preço. Na política e na economia é a quase a mesma coisa. É mais confortável continuar comendo mal e sentado no sofá. Fazer dieta é um saco, ir pra academia cansa. Ainda mais que quem vai acabar morrendo do coração não são os próprios políticos que conduzem o país, mas sim o povo brasileiro.
· Ficha Técnica: Brasil;
· Moléstia: Obesidade Mórbida;
· Causas: Crise política e agravamento da situação fiscal;
· Remédio: Elevação das taxas de juros – doses cada vez maiores, administradas pelo Banco Central;
· Efeitos Colaterais: Desemprego e baixo crescimento econômico;
· Cura: Reformas no estilo de vida, para desenvolver hábitos saudáveis, como dieta de impostos, prática regular de responsabilidade fiscal e estabilidade política. Isto é, reformas estruturantes para ingerir menos impostos e gastar o dinheiro público adequadamente.
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