Uma criança explica usando o Álbum da Copa

Ao navegar pelo Linkedin me deparei com uma história curiosa, postada pelo Eduardo Casarini no dia 18/09/2022:
Meu filho virou venture capitalist no mercado das figurinhas da copa por um dia.
Ele tem 13 anos e está tentando completar o álbum. Com recursos limitados, precisa otimizar a forma de juntar figurinhas.
As opções são comprar, trocar ou bater bafo.
No último sábado ele chegou em casa com um enorme bolo de figurinhas na mão. Ele teve uma ideia diferente.
No clube, notou que o melhor batedor de bafo da turma tinha esquecido as figurinhas em casa. Então, propôs o seguinte pro amigo.
“Eu te dou 5 figurinhas pra você começar o dia. Se você perder tudo não me deve nada. Porém, tudo que você ganhar no dia, metade é meu”.
Dito e feito. O rapaz “rapelou” todo mundo e a dupla foi um sucesso. Alinhamento total de interesses.
Aí perguntei se ele tinha batido figurinha ele mesmo ou tinha ficado torcendo pro amigo. Ao que ele me respondeu “que nada pai, passei o dia todo jogando bola”.
É ou não é um típico venture capitalist?
Real ou ficção, a história nos traz algumas lições relevantes:
1. O significado de Venture Capital
Pode ser traduzido como Capital de Risco, uma modalidade de investimento em empresas que estão em estágios iniciais de desenvolvimento e necessitam de dinheiro para financiar e acelerar seu crescimento.
O garoto que é um craque do tapão e estava sem figurinhas representa perfeitamente a empresa que precisa de financiamento, há um potencial enorme ali, mas que só pode ser acessado mediante a disponibilidade de crédito, de confiança.
2. Avaliação: Potencial de Retorno vs Alinhamento de Objetivos
Os investimentos em Venture Capital ainda não são tão famosos no Brasil, mas aos poucos estão chegando às prateleiras das corretoras em forma de fundos de investimento ou mesmo de empresas, como a pioneira G2D. Os recursos levantados por esses personagens são alocados em startups que já têm um modelo de negócios estabelecido e seus primeiros resultados mais concretos. Os investimentos são direcionados para aquelas empresas iniciantes que apresentam um maior potencial de retorno associado ao alinhamento de estratégia com os gestores dos fundos.
Vejam que nosso garotinho do exemplo buscou as mesmas características dos grandes gestores: apostou em quem já tinha um histórico de resultados interessantes (bom no jogo) e também estava sujeito ao mesmo objetivo: obter mais figurinhas para completar o álbum.
3. Sociedade e Parceria
A despeito dos bons resultados obtidos, nosso pequeno venture capitalist pecou em um aspecto relevante. Os grandes gestores estão imersos no mundo corporativo e podem atuar facilitando a jornada para o sucesso da jovem empresa. Ao escolher trilhar o lado dos investimentos de risco, é importante se assegurar que os gestores conheçam e se envolvam com os negócios. Esperar os ganhos ao fim do dia, após ficar jogando bola, pode não ser a melhor estratégia nesse mundo.
4. O capitalismo não é um jogo de soma zero
Não me surpreendem os muitos comentários com teor negativo ao post do Casarini. Instigam que a história é falsa, que falhamos como sociedade ao apreciar essa noção de “exploração do trabalho alheio”. Eu tenho uma percepção muito diferente.
Um garoto entrou no jogo sem nenhuma figurinha. Sem a participação do sócio capitalista, ele terminaria o dia sem nada mais para colar em seu álbum. Assim como o filhinho do Eduardo também poderia voltar para casa sem nenhum lucro autocolante.
Fato interessante é que na analogia das figurinhas, é como se para alguém ganhar, outros necessariamente teriam que perder. Sim, muitos coleguinhas perderam figurinhas, mesmo que tenham se divertindo ao longo do jogo. Isso pode nos trazer uma noção equivocada sobre exploração.
O que leva as pessoas a enxergar exploração no capitalismo é entender que existe um jogo de soma zero: quando alguém ganha, outro necessariamente teria que perder. Entretanto, quando algo é produzido e vendido, ocorre um jogo de ganha-ganha, em que todos são remunerados no processo. Produtores, fornecedores, locatários, trabalhadores, capitalistas. A economia passa a ser maior do que era antes dessa produção, pois valor foi gerado.
Quando duas ou mais pessoas/instituições alinham objetivos e trabalham em colaboração, apesar de enfrentarem riscos, podem sair melhor ao final da história do que entraram. É esse pensamento empresarial que nos conduz para longe da escassez e para mais perto da fartura.
19/09/2022
Samuel Barbi
Mentoria Financeira
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