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Condomínio Brasil

Foto do escritor: Samuel BarbiSamuel Barbi

As consequências do populismo fiscal



Imagine que você viva em um grande condomínio. Neste prédio, o síndico é um baita contador, daqueles “mão de vaca”, que arrecada sem dó ou piedade os valores mensais dos moradores. Daqueles que paga as contas religiosamente em dia, mantém reservas para obras e manutenções. Um cara turrão, do tipo que só veste cinza, anda por aí mal humorado e faz de tudo pra não gastar o dinheiro dos moradores à toa.


Em condomínios as reclamações são constantes. A jovem do 201 vive se queixando sobre a necessidade de ter porteiros no prédio, já que chegava tarde de sua faculdade e gostaria de se sentir mais segura. O senhor do 404 pede a instalação de elevadores pois não aguenta mais subir escadas com suas compras. A grande família do 302 pede a construção de um parquinho para as crianças poderem brincar. O síndico, no entanto, não faz questão de politicagens e, muitas vezes, em função de melhor gerir os recursos, diz não para os pleitos de seus colegas. Ele entende que apesar dos vários pedidos, o prédio necessita de uma reforma estrutural, pois está ficando velho. Seria necessário alterar toda a rede elétrica, as tubulações, além da correta vedação dos telhados e de uma grande reparação da fachada. Com foco nessas melhorias, o gestor conseguiu juntar o caixa de R$200 mil para as obras pretendidas.


Como o síndico anterior não era muito popular, as eleições chegaram antes da reforma estrutural, sendo assim, na assembleia os moradores se rebelaram. “Como assim temos R$200 mil em caixa e o senhor não atende às nossas demandas?”, perguntavam os reclamantes. Por mais que o gestor explicasse a necessidade da grande reforma e seus altos custos, os moradores desejavam também o atendimento das outras pautas. Um dos moradores, um sociólogo, resolveu então propor uma candidatura distinta: “Prometo resolver todas as demandas do prédio”, disse.


Com a pauta popular, foi eleito o novo síndico. O início foi simples, usou o dinheiro em caixa a duras penas juntado pelo gestor anterior para contratar porteiros, uma empresa de segurança para fazer rondas, construir o parquinho das crianças e instalar os elevadores. Chegou até a trocar os interfones por mais modernos e a fazer uma pintura superficial na fachada do prédio. Carismático, atendeu às necessidades dos moradores e fazia toda uma política de boa vizinhança. Rapidamente o caixa foi consumido, no entanto sem realizar as reformas estruturais pretendidas pelo gestor anterior.


Com a popularidade em alta, o sociólogo foi reconduzido ao cargo de síndico. Nesse momento, as despesas do condomínio estavam maiores, pois a rede elétrica e de saneamento já necessitavam de constante manutenção, os elevadores instalados elevaram a conta de energia. O parquinho precisava de limpeza constante, fazendo com que o síndico tivesse também que contratar faxinas semanais. Por fim, uma grande chuva ultrapassou a já fraca vedação dos telhados e inundou os apartamentos dos andares superiores do prédio, situação que ensejou indenizações aos proprietários.


Sem dinheiro em caixa e com despesas mais elevadas, o síndico resolveu recorrer a um empréstimo de R$100 mil para pagar indenizações e arcar com os custos que ultrapassam a arrecadação do prédio durante sua nova gestão. O empréstimo cobrava altos juros, o que elevou ainda mais as despesas do condomínio. E, como as contas estavam apertadas, o síndico optou por não pagar a dívida. E assim levou até acabar sua gestão, em uma dívida que duplicou de valor.


Em nova eleição, o sociólogo opta por não mais disputar. Se gaba de ter realizado um belo trabalho pelo bem de todos, com muitas transformações positivas e tendo honrado seu compromisso com os moradores. Os que não compreendem números aplaudem os feitos.


Entretanto, a nova situação do condomínio é o completo oposto da inicial. Em vez de ter caixa de R$200 mil para fazer as reformas estruturais, há um prédio ainda mais obsoleto, com custos mais altos e uma dívida de R$200 mil.


Como o prédio está inadimplente, os bancos não topam emprestar mais dinheiro. O síndico a ser eleito deverá estancar a sangria de alguma forma. Resta a ele aumentar as receitas, elevando o valor cobrado pelo condomínio de cada morador. Terá também que cortar gastos, desativando os elevadores, demitindo alguns dos seguranças e parte da equipe de limpeza. Quem toparia essa missão tão complicada? Possivelmente nosso colega das roupas cinzentas.

O contador reassume e adota medidas impopulares, paga a dívida, e junta dinheiro novamente para as reformas. Os moradores do prédio vão odiá-lo ainda mais. Enquanto isso, nosso perdulário colega será lembrado como o melhor síndico da história do prédio.


Em qual ponto quero chegar com essa história? Nós vivemos no Condomínio Brasil. Nossos políticos se comportam como o síndico perdulário por meio de seu populismo fiscal. Gastam mais que arrecadam, se endividam e deixam a conta para o próximo síndico pagar. Enquanto há capacidade de endividamento, parece correr tudo bem. Na hora que essa capacidade se acaba todos sofremos suas devastadoras consequências: crise, aumento de impostos, altas taxas de juros, desemprego, inflação, fome e miséria. São tempos cinzentos.


É por isso que devemos exigir responsabilidade fiscal dos governantes, independentemente de sua bandeira política. Quando gastam acima da arrrecadação, os políticos ampliam sua própria popularidade às custas de deixar um legado maldito aos seus sucessores. E quem paga a conta somos todos nós, os moradores.


14/11/2022


Samuel Barbi

Mentoria Financeira


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